quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Peter Siemsen solta o verbo: "E o Maracanã"?



Foi divulgado hoje um artigo, quase um manifesto, em tom de desabafo e crítica, assinado pelo Presidente do Fluminense, Peter Siemsen, sobre a situação do Maracanã.

O principal estádio do Rio de Janeiro, que abriga os jogos de Fluminense e Flamengo como mandantes, está fechado desde 2010 para uma reconstrução completa, com vistas à Copa de 2014. Passados exatos 2 anos de seu fechamento, tem previsão de reabertura em fevereiro de 2013 e um investimento previsto em R$808 milhões, bancados pelo poder público.

Apesar do alto investimento e da proximidade de sua reabertura, até o momento não foi definido o modelo de funcionamento: se será administrado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro ou se será arrendado à iniciativa privada. Qualquer que seja o modelo escolhido, os dois clubes necessitam se organizar e planejar para analisarem a viabilidade técnica e econômica da utilização do estádio.

O custo para a realização de um jogo no Engenhão, de acordo com os borderôs que são disponibilizados na Federação de Futebol do Rio de Janeiro e na CBF, apresentam um custo fixo básico de R$95 mil e, para não haver prejuízo, é preciso uma renda mínima de R$125 mil, o que equivale a cerca de 8 mil pagantes e um público presente próximo a 11 mil pessoas.

É necessário que os clubes conheçam o custo para utilização do Estádio e como será seu funcionamento, pois é sabido que, depois do grande investimento que vem sendo realizado, a expectativa é que seja utilizado com intensidade para diversos tipos de eventos.

O Fluminense precisa saber se o Maracanã voltará a ser “sua casa”, o estádio onde realizará seus jogos como mandante. É necessário saber se esta também é a intenção do futuro administrador do Estádio e se serão oferecidas condições adequadas para que isto aconteça. Se o custo for demasiado, é necessário que o Fluminense realize um planejamento para evitar que um grande número de jogos seja deficitário.

Voltará a ganhar força a discussão sobre a busca por um estádio próprio, que permita abrigar, no mínimo, os jogos com menor público. Há propostas de revitalização do Estádio das Laranjeiras, de arrendamento de estádios como Caio Martins e Moça Bonita, além de projetos de construção de um novo estádio, sendo o local desejado a região do Porto do Rio de Janeiro.

Transcrevemos, abaixo, a íntegra da mensagem do Presidente Peter Siemsen:

“Fluminense e Flamengo estão, com muita paciência, aguardando a volta do Maracanã, casa de seus jogos e de grandes clássicos do futebol carioca. Não é fácil ver a receita da bilheteria diminuir, o público minguar, a luta para manter o gramado em condições de receber continuamente os jogos de três clubes, além de todos os clássicos locais, e ainda ter que enfrentar um inimigo oculto: a desorganização.

Dentro da cultura do futebol brasileiro, é quase um mantra as duras críticas às dívidas acumuladas pelos clubes e à constante falta de planejamento de nós, dirigentes. No entanto, são diversos os exemplos que demonstram que o futebol brasileiro está mudando e que alguns clubes conseguem aumentos de receitas respeitáveis, impondo normas de governança na gestão, bem como, trabalhando com rigoroso planejamento nas principais áreas geradoras de receitas (marketing, divisões de base, futebol profissional, departamento comercial e etc).

Essa transformação vem possibilitando o aumento gradativo do poder econômico dos principais times do Brasil. Entre as receitas que mais crescem, há destaque para uma, em especial: aquela obtida da relação do estádio onde o clube manda seus jogos e a fidelização do seus torcedores. O Internacional, clube com a segunda maior receita do país, é o melhor exemplo da dinâmica desse instrumento de receita. São aproximadamente cem mil sócios pagantes, diretamente interessados em garantir seu lugar no estádio e a ajudar o seu clube a manter o planejamento sob controle, minimizando os sobressaltos no desempenho esportivo que qualquer time de futebol pode enfrentar.

Todavia, aqui no Rio de Janeiro, as dificuldades aumentam. Depois de dois anos em obras, a previsão do Governo do Estado é que o nosso Maracanã ficará pronto em fevereiro. Mesmo com todo esse tempo para negociar, montar um plano de uso ou pelo menos apresentar um modelo de gestão pública ou por meio de concessão à iniciativa privada, nós não temos qualquer informação oficial sobre o estádio.

Os clubes vão participar ou, pelo menos, serão ouvidos sobre o futuro do templo maior do futebol? Não somos nós os maiores usuários, diretamente responsáveis por da parte da História do outrora maior do mundo?

Dois dos mais importantes frequentadores do templo devem estar, lá de cima, decepcionados. Os irmãos Nelson Rodrigues e Mario Filho querem voltar a ver os mágicos momentos protagonizados pela dupla Fla-Flu, com arquibancadas cheias e com os clubes jogando "em casa". Qual é a empresa que lança um serviço novo ou revitalizado sem ouvir seus maiores usuários e seus clientes?

Por que a decisão tem que partir da área pública, como se fosse ela especialista em eventos de jogos de futebol? Na verdade, a meses da inauguração do novo Maracanã, não sabemos se o templo do futebol vai ser privatizado ou não. Não temos ideia se poderemos voltar a jogar lá no ano que vem ou só depois da Copa de 2014. Poderemos ser sócios do evento jogo ou seremos meros locatários? Não há respostas. E o tratamento não foi diferente na ocasião do fechamento. Do dia para a noite, mão de ferro: tem que fechar agora e pronto! Afinal, os clubes que se danem. Para que planejar? Para que se preocupar com o que vai acontecer daqui a um ano ou dois?Alguns passos rumo à profissionalização do futebol vem sendo dados por clubes sérios. Mas essa virada precisa de adesões. Nem sempre clubes e dirigentes são culpados de tudo.

Acorda, Rio de Janeiro! É hora de entender que futebol deve ser tratado com profissionalismo e que o estádio da final da Copa pode ser um bom começo. Ainda há tempo para reunir os clubes e definir o melhor modelo a ser adotado. Afinal, queremos apenas transparência e tempo para planejar. Superada essa etapa, todos temos a ganhar. Em especial o carioca, tão apaixonado por futebol.

Terra mágica onde nasceu a seleção brasileira, onde a nossa canarinho ganhou seu primeiro título internacional, onde o maior público de um jogo entre clubes de futebol foi registrado, onde Pelé marcou seu milésimo gol e onde esperamos alcançar a glória máxima do futebol mundial: ser campeão do mundo na nossa própria casa.”

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