quarta-feira, 22 de agosto de 2012

NELSON RODRIGUES, O PROFETA TRICOLOR




Nelson Falcão Rodrigues  nasceu em Recife no dia 23 de agosto de 1912, numa família de 15 filhos do jornalista Mário Rodrigues. Veio para o Rio de Janeiro com 4 anos, onde viveu por toda a vida. Começou a carreira no jornal de seu pai, “A Crítica” e trabalhou nos principais jornais do Rio de Janeiro. 

Sua carreira como jornalista e dramaturgo já é largamente conhecida e dispensa maiores esclarecimentos, pois o objetivo desta homenagem é abordar seu lado futebolístico e, inerentemente, sua paixão pelo Fluminense, clube que exaltou por toda a vida e sobre o qual escreveu crônicas e frases memoráveis. Nenhum clube do Brasil e, provavelmente, do mundo, tem ou teve o privilégio de ser objeto de tantas e tão belas palavras escritas por um monstro da literatura.



Durante muito tempo seus textos foram publicados no Jornal dos Sports.  Com seu irmão, o jornalista Mário Filho, contribuiu para a mística do Fla-Flu,  visto como o clássico mais emblemático do futebol.  Com a fundação da TV Globo, nos anos 60, Nelson  participou da bancada da Grande Resenha Esportiva Facit, a primeira "mesa-redonda" sobre futebol da televisão brasileira. Desde então, até o final de sua carreira, foi colunista do jornal O Globo, onde publicou sua última crônica, sobre o título estadual conquistado pelo Fluminense sobre o Vasco, no dia 2 de dezembro de 1980.


Nelson faleceu aos 68 anos de idade, num domingo, 21 de  dezembro de 1980, após uma longa luta contra complicações cardíacas e respiratórias. No  dia de sua morte, ele ganhou na Loteria Esportiva, fazendo treze pontos  num "bolão" com os colegas de "O Globo".


Nelson se utilizava de  alguns personagens que criou em suas crônicas sobre futebol. Havia, por exemplo, o “Ceguinho Torcedor”, que ia de bengala para o Maracanã,  discutia sobre o jogo,  sobre o pênalti ou impedimento. Afinal, não lhe era preciso enxergar com os olhos, bastava-lhe ver com o coração, como qualquer torcedor.

O mais famoso, talvez, fosse o “Sobrenatural de Almeida”. Uma figura soturna, capaz de modificar o resultado dos jogos, trazendo sempre um clima pessimista e catastrófico. Morava no subúrbio, numa cabeça de porco, abanando-se com a “Revista do Rádio”, para driblar o calor de seu quartinho. Escolhia um time, ou um jogador, para azucrinar, dar-lhe azar e fazê-lo perder um gol incrível ou se machucar. Através dele, Nelson representava aquele  tipo de torcedor pessimista, que reclama de tudo e de todos.

Havia também o tricolor "Gravatinha", que  ia ao estádio de terno e sua característica gravata borboleta. Morreu em 1958, vítima da gripe Espanhola com mais de oitenta anos. Magro, fala mansa e “voz de criança que baixa em centro espírita”, sempre que aparece no estádio é garantia de que a vitória será do Fluminense, já que, como vem do outro mundo, já sabe qual será o resultado do jogo. E só vai ao estádio para assistir a vitórias do Fluminense.

Até a Grã-Fina das Narinas de Cadáver podia aparecer numa de suas crônicas futebolísticas, como no trecho abaixo:
"Ontem, encontrei-me com a grã-fina das narinas de cadáver. Ela veio para mim feliz do encontro. Disse: "Vou ao Fla-Flu". Imaginem vocês que, outro dia, ela me entra no "Mário Filho" e pergunta: "Quem é a bola?" Não sabia quem era a bola, mas era tocada pela magia do Fla-Flu. Sabe o que é o Fla-Flu e não sabe quem é a bola. (...)


Para concluir esta singela homenagem a este patrimônio do Fluminense, seguem algumas de suas antológicas frases sobre o clube:

- “Grandes são os outros, o Fluminense é enorme”.

- “Se o Fluminense jogasse no céu, eu morreria para vê-lo jogar”.

- “O Fluminense é o único time tricolor do mundo. O resto são só times de três cores”.

- “Eu vos digo que o melhor time é o Fluminense. E podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos”.

- “Pode-se identificar um Tricolor entre milhares, entre milhões. Ele se distingue dos demais por uma irradiação específica e deslumbradora”.

- "Se ainda usássemos chapéu teríamos de tirá-lo toda vez que fossemos falar do Fluminense."

- "Não se dá um passo em Álvaro Chaves sem tropeçar numa glória."

- “Se quereis saber o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado. A história tricolor traduz a predestinação para a glória”.

- “O Flamengo tem mais torcida, o Fluminense tem mais gente!”.

- “Sou tricolor, sempre fui tricolor. Eu diria que já era Fluminense em vidas passadas, muito antes da presente encarnação”.

- “O Fluminense nasceu com a vocação da eternidade…tudo pode passar…só o tricolor não passará jamais”.

- “Ser tricolor não é uma questão de gosto ou opção, mas um acontecimento de fundo metafísico, um arranjo cósmico ao qual não se pode - e nem se deseja - fugir."

-  “Uma torcida não vale a pena pela sua expressão numérica. Ela vive e influi no destino das batalhas pela força do sentimento. E a torcida tricolor leva um imperecível estandarte de paixão”.

- “Nas situações de rotina, um 'pó-de-arroz' pode ficar em casa abanando-se com a Revista do Rádio. Mas quando o Fluminense precisa de número, acontece o suave milagre: os tricolores vivos, doentes e mortos aparecem. Os vivos saem de suas casas, os doentes de suas camas e os mortos de suas tumbas”.

-  “A Grande Guerra seria apenas a paisagem, apenas o fundo das nossas botinadas. Enquanto morria um mundo e começava outro, eu só via o Fluminense”. 


Para quem quiser conhecer mais da história deste ícone da literatura, do jornalismo, da dramaturgia e da crônica esportiva, recomendamos a leitura do livro: "O profeta Tricolor, cem anos de Fluminense", com setenta crônicas de Nelson sobre o Fluminense e "O Anjo Pornográfico", biografia de Ruy Castro sobre Nelson.

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