A Copa
Rio foi uma competição intercontinental com caráter oficial (segundo o ESTATUTO
DA FIFA, competições autorizadas por ela tem o caráter de oficiais) patrocinada
pela Prefeitura do Rio de Janeiro e organizada sob responsabilidade da CBD
(Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF), que repassou-a ao
Fluminense, permanecendo, porém, como responsável perante a FIFA).
A Copa
Rio foi criada após a Copa do Mundo de 1950, buscando melhorar a auto-estima
dos decepcionados brasileiros e aproveitar o enorme sucesso de midia e de
público da Copa realizada no Brasil, que manteve a maior média de público da
história até a Copa de 1994, nos EUA.
No Rio de Janeiro, o clima de frustração
pela derrota do Brasil em 1950 ainda era forte, além disso, no Torneio Rio-São
Paulo, Vasco em 1951 e Fluminense e Vasco em 1952 perderam a disputa para os
paulistas (Em 52, a Portuguesa empatou em pontos com o Vasco e foi campeã no
saldo de gols, Corinthians terminou em terceiro e o Fluminense, que ficou em quarto, não foi campeão por ter perdido na última rodada para o Corinthians).
Equipe do Fluminense em 1952
A primeira edição da Copa Rio ocorreu em 1951, com o Palmeiras sagrando-se campeão ao empatar no Maracanã por 2 a 2 com a Juventus-ITA (venceu o primeiro jogo por 2 a 1 em São Paulo), apoiado por mais de 100.000 torcedores, muitos deles cariocas.
O regulamento da Copa Rio, editado em 1951, previa a realização da competição de dois em anos, mas a segunda edição foi antecipada em homenagem ao cinquentenário do Fluminense Football Club, decano dos grandes clubes brasileiros e laureado dois anos antes pelo Comitê Olímpico Internacional com a Taça Olímpica, pelos inestimáveis serviços prestados aos esportes olímpicos.
Foto colorizada do time campeão.
Poucos campeonatos dos anos 50 foram tão bem acompanhados pelos órgãos de imprensa naquela época. Aliás, a midia carioca cobriu o torneio de 1952 como um acontecimento extraordinário. O Jornal dos Sports, ícone da imprensa esportiva carioca de então, publicou artigo de Mário Filho, em 5 de Agosto de 1952, em que faz uma grande análise das duas edições da Copa Rio e contava a história dos clubes e dos times antes de suas chegadas e cobriu todos os clubes, mesmo os que ficaram sediados em São Paulo, reproduzindo diariamente entrevistas dos atletas, técnicos e dirigentes participantes, sem falar na cobertura dos jogos, obviamente.
Imagens do jogo de estréia contra o Sporting
A
COPA RIO 1952.
Os clubes participantes foram:
-
Fluminense,
campeão carioca de 1951,
-
Corinthians,
campeão paulista de 1951,
-
Sporting
de Portugal, campeão português de 1951, e que atravessava a melhor fase de sua
história, com 7 campeonatos nacionais em 8 anos, entre 1947 e 1954 (em 52 foi
campeão com 21 vitórias em 26 jogos, com 91 gols a favor e 21 contra),
-
Grasshoppers
da Suiça, campeão suíço de 1951, país anfitrião da Copa do Mundo de 1954, cujo
estilo de jogo era conhecido como Ferrolho
Suiço);
-
Peñarol,
campeão uruguaio de 1951, com 7 titulares da seleção uruguaia campeã do Mundo
em 1950;
-
Saarbrücken,
que liderava o campeonato alemão na época do convite,
-
Libertad
que liderava o campeonato paraguaio na época do convite
-
Áustria
Viena que liderava o campeonato da Áustria, uma das potências
futebolísticas desta época, que não disputou a Copa do Mundo de 1950 em função
de resquícios da Segunda Guerra Mundial e seria terceira colocada da Copa do
Mundo de 1954.
Entre os clubes de maior prestígio convidados para a Copa Rio 1952, a italiana Juventus e o argentino Racing não compareceram.
O Racing, que havia aceito o convite, teve de voltar atrás por pressão da AFA, em função do relacionamento conturbado desta com a CBD.
Cabe lembrar que, conforme os critérios da época, as Copas do Mundo também eram realizadas por convite, sendo comum haver desistências. Na Copa do Mundo de 1950, apesar de convidadas, Argentina, Portugal e França, não compareceram. Apenas, anos depois estabeleceu-se critérios de seleção qualitativos.
Entre os clubes de maior prestígio convidados para a Copa Rio 1952, a italiana Juventus e o argentino Racing não compareceram.
O Racing, que havia aceito o convite, teve de voltar atrás por pressão da AFA, em função do relacionamento conturbado desta com a CBD.
Cabe lembrar que, conforme os critérios da época, as Copas do Mundo também eram realizadas por convite, sendo comum haver desistências. Na Copa do Mundo de 1950, apesar de convidadas, Argentina, Portugal e França, não compareceram. Apenas, anos depois estabeleceu-se critérios de seleção qualitativos.
Os clubes foram divididos em dois grupos, um sediado em São Paulo e outro sediado no Rio de Janeiro, ambos com 4 clubes cada, jogando todos contra todos e se classificando os dois primeiros de cada grupo para as semifinais.

O Grupo do Rio foi formado por Fluminense, Peñarol, Sporting e Grasshoppers, classificando-se os dois primeiros. Na primeira partida, contra o poderoso Sporting, o Fluminense empatou em 0x0, perante cerca de 75.000 pessoas, deixando a torcida preocupada. Na segunda partida, uma vitória sofrida por 1 a 0 contra o Grasshoppers e, na terceira rodada, o Fluminense venceu o Peñarol por contundentes 3 a 0 na vitória mais comemorada deste torneio, pois foi considerada como uma pequena revanche da Copa do Mundo de 1950 .
Maracanã, sede do grupo do Rio de Janeiro

O Grupo de São Paulo foi formado por Corinthians, Áustria Viena, Libertad e Saarbrücken, classificando-se os dois primeiros. As noticias vindas de São Paulo diziam que o Corinthians estava jogando um futebol extraordinário (havia ganho do Libertad e do Saarbrücken por 6 a 1) e que seria o grande favorito para a conquista da Copa Rio.
Pacaembu, sede do grupo de São Paulo
Sobre
os jogos, publicou o Anuário do Esporte Ilustrado 1953:
"No domingo, 13 de julho, jogaram
no Maracanã, o Fluminense e Sporting. Foi um match sensacional, em que os
portugueses, resistindo bravamente aos ataques mais penetrantes dos tricolores,
chegaram ao final da lutta com um honroso empate por 0 x 0.”
"Na noite do dia 17, voltou o campeão carioca ao Maracanã para enfrentar o Grasshopers e viver outro drama intenso. Encontrando a mesma dificuldade que havia encontrado o Peñarol para romper o ferrôlho suiço, o Fluminense não conseguiu nada no primeiro tempo, que terminou 0 x 0. E na segunda fase, somente quando faltavam doze minutos para findar a luta, foi que marcou o gol da vitória.”
"Na noite do dia 17, voltou o campeão carioca ao Maracanã para enfrentar o Grasshopers e viver outro drama intenso. Encontrando a mesma dificuldade que havia encontrado o Peñarol para romper o ferrôlho suiço, o Fluminense não conseguiu nada no primeiro tempo, que terminou 0 x 0. E na segunda fase, somente quando faltavam doze minutos para findar a luta, foi que marcou o gol da vitória.”
Sete jogadores da equipe campeã do Mundo em 50 jogavam no Peñarol em 52
"No domingo dia 20, encerrando o turno
carioca de classificação, jogaram no Maracanã Fluminense e Peñarol. Os
tricolores, que não haviam convencido nos dois primeiros jogos, se reabilitaram
no cotejo com os campeões uruguaios, vencendo bem por 3 x 0 e firmando-se assim
como o nº 1 da chave.”
Equipe do Austria Wien, maior campeão austríaco
De
acordo com o regulamento, cada semifinal seria decidida em dois jogos. O
Fluminense, primeiro colocado da chave carioca, enfrentou o Áustria, segundo
colocado na chave paulista, enquanto o Corinthians jogava com o Peñarol. O
primeiro jogo. realizado entre os tricolores e os austríacos no Maracanã,
terminou com uma difícil vitória do campeão carioca por 1x0. No segundo jogo,
porém, o Fluminense conseguiu desmontar a resistência austríaca, vencendo por
5x2. O Áustria chegou a estar vencendo 2x1, mas já no final do primeiro tempo
os tricolores estavam à frente por 3x2.
Equipe do Corinthians em 1952
No Pacaembu, o Corinthians e o Peñarol jogaram apenas a primeira metade da semifinal. A primeira partida, ganha pelo campeão paulista por 2 x 1, foi tão conturbada que o Peñarol desistiu de disputar a segunda, abandonando o campeonato. Os uruguaios se queixaram da violência do jogo, mas foi o Corinthians que teve dois jogadores machucados: Baltazar, com fratura e afundamento do malar, e Murilo com forte contusão no joelho. Ambos não puderam jogar mais até o fim da competição. Dois uruguaios foram expulsos de campo, sendo Romero por jogo violento e Miguz por agressão ao árbitro, o alemão Dinger.
Com
a vitória do Fluminense sobre o Áustria e a desistência do Peñarol, ficaram os
dois clubes brasileiros classificados para a final da II Copa Rio.
Mesa de troféus no dia da final
Em
toda Copa Rio aconteceram apenas quatro expulsões e, dos sete árbitros que
apitaram os jogos, apenas Alberto da Gama Malcher (duas partidas) era
brasileiro, completando o quadro o alemão Eugen Dinger (quatro partidas), o
austríaco Arnold Glaber (três partidas), o português Joaquim Campos (três
partidas), o suiço Fritz Buchmuller (duas partidas), o francês Gabriel Tordjman
(duas partidas) e o uruguaio Juan Armental (uma partida).
A Taça Rio, na sala de troféus do Fluminense
Em
artigo no jornal LANCE sobre as Copas Rio, o jornalista Mauro Betting compara a
discussão sobre a necessidade de reconhecimento das Copas Rio como campeonato
mundial de clubes a ter que chamar Dom Pedro II de presidente, para que alguém
entenda a importância de um imperador.
Imperador
ou presidente? Podem escolher, pois a Copa Rio 1952 foi um campeonato muito importante
em sua época e, independente do nome com que seja chamada, sua história deve
ser preservada e exaltada.